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Empresas alemãs criam mais de 50 mil empregos em Portugal
26 de Setembro de 2022
Postado por Meyer Soares

EPA /RONALD WITTEK

Angela Merkel visita hoje o novo centro tecnológico da Bosch, uma das empresas alemãs que mais geram emprego em Portugal

Foi em 2016 que Mathias Renninger trocou a Francónia pelo país "onde se vive de improviso". Os últimos anos foram passados no centro tecnológico da Bosch em Braga a liderar uma equipa que cria software para carros autónomos. No final de agosto, Mathias estará outra vez de malas aviadas para a Alemanha. Quando lá chegar, poderá dizer que foi em Portugal que conheceu Angela Merkel. É no novo centro tecnológico da Bosch em Braga que arranca hoje a visita de dois dias da chanceler alemã a Portugal.

Quando Mathias Renninger chegou a Braga, juntou-se a uma equipa com poucas dezenas de trabalhadores qualificados. Hoje, 240 milhões de euros de investimento depois, já tem mais de 250 colegas. Até ao final do ano deverão ser 400. Ao todo, a Bosch emprega cerca de 4450 pessoas em Portugal. É uma das empresas que contribuíram para que a Alemanha seja um dos maiores empregadores do país, logo a seguir ao Estado. Só as cinco maiores empresas alemãs dão trabalho a 20 mil trabalhadores (ver infografia). "Os dados oficiais revelam que as empresas alemãs são responsáveis por cerca de 35 mil empregos diretos em Portugal, mas sabemos que são mais. Calculamos que sejam aproximadamente 50 mil. A estes juntam-se os empregos indiretos, que não conseguimos quantificar, porque muitas indústrias alemãs têm fornecedores locais", explica ao DN/Dinheiro Vivo Hans-Joachim Böhmer, diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã (CCILA).

Em 2016, as 400 empresas alemãs que operam em Portugal registaram um volume de negócios próximo dos dez mil milhões de euros. Quase metade desse valor resultou de vendas para o estrangeiro.

Mas o que procuram afinal os alemães em Portugal? "Sobretudo a qualidade dos recursos humanos, em particular na área da engenharia", sublinha Miguel Franco, presidente do conselho diretor da CCILA. "Destaca-se também o excelente domínio das línguas estrangeiras, uma boa rede de infraestruturas, o elevado nível de segurança, a estabilidade política e a boa abertura que Portugal sempre teve ao investimento estrangeiro. A ligação das empresas alemãs a Portugal é de longa data. Já nas décadas de 1970 e 1980 vieram para cá em força. Muitas ficaram e hoje estão a investir fortemente, como a Bosch, a Continental Mabor ou a Volkswagen, que é provavelmente um dos maiores investimentos estrangeiros de Portugal", destaca.

Mas ao contrário do que acontecia no século passado, o investimento alemão emPortugal começou a esmorecer nas últimas décadas. "Com a queda do Muro de Berlim, Portugal saiu um bocadinho do radar das empresas alemãs. A CCILA está a tentar reativar o nome do país na Alemanha e já vemos alguns efeitos. A Eberspächer abriu uma fábrica em Tondela, no ano passado, e criou 550 empregos", afirma Miguel Franco.

Para Hans-Joachim Böhmer, o século XXI está a criar um novo paradigma nas relações comerciais entre os dois países. "Os exemplos da Bosch ou da Mercedes, com o Delivery Hub, são muito emblemáticos. O investimento alemão era muito industrial mas as empresas que vêm agora trazem mais conhecimento e tecnologia. E escolhem Portugal porque há engenheiros e informáticos que conseguem satisfazer as exigências alemãs. Essas empresas sabem que em Portugal o produto vai ser feito tal como seria na Alemanha, com qualidade. E no mercado do desenvolvimento de software não há os custos de transporte. É uma grande oportunidade para Portugal."

O grande desafio do país nos próximos anos, sublinham os dois responsáveis, será alimentar a fome alemã com mão-de-obra qualificada suficiente. "As empresas procuram talento, mas é preciso que ele exista", diz Miguel Franco. Na escola de qualificação profissional da CCILA, a taxa de empregabilidade é de 95% e o sucesso tem sido "extremos", diz. De lá saíram profissionais para a fábrica das máquinas fotográficas Leica, em Famalicão. "E eles não podiam estar mais satisfeitos. Dificilmente terão a mesma qualidade noutros países".

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